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Geração Favela: Cultura como ferramenta de remoção de jovens da vida do crime

Atualizado: 7 de jul. de 2024




Tudo começa com um moleque que tinha uma câmera, que sendo sempre convidado pra filmar as atividades culturais (bailes funk) da sua área, tinha também a confiança da sua comunidade. A comunidade é o Complexo do Andaraí, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro. As filmagens despretensiosas narram como os chamados 'bailes da antiga' foram capazes de frear guerras entre facções rivais (Comando Vermelho e Terceiro Comando). Nesses bailes, comunidades em conflito se encontravam pra dançar funk a noite inteira, deixando evidente que a presença da cultura em áreas de sabotagem estrutural, pode diminuir conflitos armados. Essa história virou um filme, o 'Geração Favela'. O "maníaco da câmera" (como o apelidou Eduardo Marinho), lente dos bailes da Zona Norte, cresceu e virou um dos maiores produtores culturais do País. Hare Brasil levou artistas de rua e favela aos maiores palcos do país. Nesse ano, sua atuação intelectual artística e política no trabalho com povos Yanomamis, serviu de influência pro último Samba do Salgueiro, que chegou a ser premiado no Festival de Cannes mês passado. Também formado em Direito, Hare foi convidado pelo Projeto "Geração da Chico" pra implementar na favela mais violenta de Santa Catarina, a 'Chico Mendes', um projeto cultural de remoção de jovens da vida do crime. O resultado é surpreendente. É nessa dinâmica que 'Geração Favela' ganha vida, mostrando os bastidores de dois anos de trabalho cultural em zonas de conflito e seus resultados pacificadores.


Diferente do que se diz, favela não é um problema social, favela é um projeto social. Periferias são um projeto estrutural pra que pessoas que habitam essa classe deixem de sonhar, sendo apenas mãos úteis a essa estrutura de sociedade desigual e que explora a mão de obra barata, gerando os lucros longe das favelas. A miséria, um nível ainda mais agudo, também é uma criação social e não um acidente (como fazem parecer). Pelo medo de descer a miséria, o pobre facilmente abre mão dos sonhos pra servir a estrutura: seja ganhando um salário mínimo, seja no crime organizado. As duas opções são projeções sociais.



A Traficando Informação somando esforços e apoio com institutos como ‘Itaú Social; Cedep e Gerações da Chico’, cooperou com a construção de estúdios de música em áreas sabotadas socialmente, possibilitando jovens que operavam no tráfico a viveram da arte. Através desse arquivo, não resta dúvidas que a escolha pelo crime é resultado de falta de políticas públicas que possibilitem o jovem periférico a ter opção artística e cultural. A psicóloga social Karolina Dias, que participa do arquivo, afirma que “o trabalho cultural realizado na Comunidade Chico Mendes foi capaz de diminuir a violência”.



Hare Brasil, um dos articuladores do projeto, comenta que “o trabalho serviu pra que jovens periféricos tenham autonomia de se desenvolver artisticamente dentro do seu território. Somando esforço com muita gente sensível de fora, foi possível construir essa realidade autônoma dentro. É sobre isso: redes de afeto”. Foi assim que o Rap se desenvolveu a patamares inimagináveis nessa última década, atingido topos do Spotify. De maneira independente sem qualquer vínculo com grandes gravadoras, surgiram inúmeras 'bancas independentes' de rua e favela (incluindo a própria 'Traficando Informação'). Todos esses bastidores são mostrados nesse arquivo histórico, que mostra a realidade da favela em apenas 22 minutos. O Curta já rodou o país levando inúmeras pessoas que não tem contato com essa realidade as lágrimas.


Por fim, o filme mostra as bases se movimentando e articulando por si atividades culturais de dentro dos territórios de sabotagem pra fora. A única forma dessa estrutura desigual cair é com o movimento das bases. O “Geração Favela” é o bastidor das estruturas se movimentando.


Assista o filme completo:



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